domingo, 15 de abril de 2012

Células-Tronco, parte 1.

Conceito
Células-tronco são as células com capacidade de auto-replicação, isto é, com capacidade de gerar uma cópia idêntica a si mesma e com potencial de diferenciar-se em vários tecidos.
Quanto a sua classificação, podem ser:
- Totipotentes, aquelas células que são capazes de diferenciarem-se em todos os 216 tecidos que formam o corpo humano, incluindo a placenta e anexos embrionários. As células totipotentes são encontradas nos embriões nas primeiras fases de divisão, isto é, quando o embrião tem até 16 - 32 células, que corresponde a 3 ou 4 dias de vida;
- Pluripotentes ou multipotentes, aquelas células capazes de diferenciar-se em quase todos os tecidos humanos, excluindo a placenta e anexos embrionários, ou seja, a partir de 32 - 64 células, aproximadamente a partir do 5º dia de vida, fase considerada de blastocisto. As células internas do blastocisto são pluripotentes enquanto as células da membrana externa destinam-se a produção da placenta e as membranas embrionárias;
- Oligotentes, aquelas células que se diferenciam em poucos tecidos;
- Unipotentes, aquelas células que se diferenciam em um único tecido.
Constitui um mistério para os cientistas a ordem ou comando que determina no embrião humano que uma célula-tronco pluripotentes  se diferencie em determinado tecido específico, como fígado, osso, sangue etc. Porém em laboratório, existem substâncias ou fatores de diferenciação que quando são colocadas em culturas de células-tronco in vitro, determinam que elas se diferenciem no tecido esperado. Um estudo está sendo desenvolvido pela USP para averiguar o resultado do contato de uma célula-tronco com um tecido diferenciado, cujo objetivo é observar se a célula-tronco irá transformar-se no mesmo tecido com que está tendo contato. As células-tronco da pesquisa foram retiradas de cordão umbilical.

Quanto a sua natureza, podem ser:
Adultas, extraídas dos diversos tecidos humanos, tais como, medula óssea, sangue, fígado, cordão umbilical, placenta etc. (estas duas últimas são consideradas células adultas, haja vista a sua limitação de diferenciação). Nos tecidos adultos também são encontradas células-tronco, como medula óssea, sistema nervoso e epitélio. Entretanto, estudos demonstram que a sua capacidade de diferenciação seja limitada e que a maioria dos tecidos humanos não podem ser obtidas a partir delas.
Embrionárias, só podem ser encontradas nos embriões humanos e são classificadas como totipotentes ou pluripotentes, dado seu alto poder de diferenciação. Estes embriões descartados (inviáveis para a implantação) podem ser encontrados nas clínicas de reprodução assistida ou podem ser produzidos através da clonagem para fins terapêuticos.

Podem ser obtidas:
- Por Clonagem Terapêutica é a técnica de manipulação genética que fabrica embriões a partir da transferência do núcleo da célula já diferenciada, de um adulto ou de um embrião, para um óvulo sem núcleo. A partir da fusão inicia-se o processo de divisão celular, na primeira fase 16-32 são consideradas células totipotentes. Na segunda fase 32-64 serão células pluripotentes, blastocisto que serão retiradas as células-tronco para diferenciação, in vitro, dos tecidos que se pretende produzir. Nesta fase ainda não existe nenhuma diferenciação dos tecidos ou órgãos que formam o corpo humano e por isso podem ser induzidas para a terapia celular.
- Do Corpo Humano as células-tronco adultas são fabricadas em alguns tecidos do corpo, como a medula óssea, sistema nervoso e epitélio, mas possuem limitação quanto a diferenciação em tecidos do corpo humano.
- De Embriões Descartados (inviáveis para implantação) e Congelados nas clínicas de reprodução assistida

Podem ser utilizadas:


Terapia Celular: tratamento de doenças ou lesões com células-tronco manipuladas em laboratório.

O que é Clonagem Reprodutiva?
É a técnica pela qual se forma uma cópia de um indivíduo. O procedimento basea-se na transferência do núcleo de uma célula diferenciada, adulta ou embrionária, para um óvulo sem núcleo com a implantação do embrião no útero humano. Gêmeos univitelinos são clones naturais.


Principal diferença das técnicas de Clonagem Terapêutica e Reprodutiva
Nas duas situações há transferência de um núcleo de uma célula diferenciada para um óvulo sem núcleo. Mas na técnica de clonagem para fins terapêuticos as células são multiplicadas em laboratório para formar tecidos específicos e nunca são implantados em um útero. 
Vantagens e limitações da Clonagem Terapêutica para a obtenção de células-tronco.
A principal vantagem dessa técnica é a fabricação de células pluripotentes, potencialmente capazes de produzir qualquer tecido em laboratório, o que poderá permitir o tratamento de doenças cardíacas, doença de Alzheimer, Parkinson, câncer, além da reconstituição de medula óssea, de tecidos queimados ou tecidos destruídos etc , sem o risco da rejeição, caso o doador seja o próprio beneficiado com a técnica. Mas a principal limitação é que no caso de doenças genéticas, o doador não pode ser a própria pessoa porque todas as suas células têm o mesmo defeito genético.
A clonagem para fins terapêuticos não pode reproduzir seres humanos, porque nunca haverá implantação no útero. As células são multiplicadas em laboratório até a fase de blastocisto, 32-64 células, sendo a partir desse estágio manipuladas para formação de determinados tecidos. Além disso, nessa fase o pré-embrião é constituído por um aglomerado de células que ainda não tem sistema nervoso. 
Drª  Mayana Zatz
Médica Geneticista da USP


VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS CÉLULAS-TRONCO

VANTAGENS CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS
- As células-tronco extraídas de embrião são bem mais abundantes;
- As células-tronco embrionárias conseguem se diferenciar em todas as 75 trilhões de células
existentes nos 216 tipos de tecidos que formam o corpo humano.
DESVANTAGENS CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS
- Para utilização das células-tronco embrionárias é necessário destruir uma vida no primeiro estágio
de desenvolvimento (o embrião) para salvar um adulto doente;
- Podem ser atacadas pelo sistema imunológico dos receptores se confundidas com invasores
indesejados;
- As células-tronco embrionárias causam grande rejeição no organismo transplantado, por isso o
indivíduo que usá-las terá que tratar-se com imuno-depressores para o resto da vida;
- As células-tronco embrionárias apresentam grande risco de provocar tumores.
VANTAGENS CÉLULAS-TRONCO ADULTAS
- Para utilização das células-tronco Adultas não é necessário destruir nenhuma vida;
- A chance de rejeição ao auto-transplante é bem menor;
- As células-tronco Adultas apresentam menor risco de provocar tumores.
DESVANTAGENS CÉLULAS-TRONCO ADULTAS
- As células-tronco Adultas são bem mais raras e sua qualidade é inferior;
- Elas não atingem os 216 tipos de tecidos que formam o corpo humano, só conseguem gerar um
número limitado de tecidos diferentes.


A polêmica e A visão da Torá


A polêmica
Existem muitas discussões no uso dos vários tipos de células-tronco na área ética da medicina, e principalmente na área religiosa. Muitos consideram o uso de células-tronco de forma geral com o intuito de procriá-las, uma invasão na obra Divina da Criação.

Outros vêem o uso da clonagem terapeuta como um perigo para o futuro, sendo que se o ser humano usar esta tecnologia no presente, futuramente poderá ser usada de forma errônea, como por exemplo, na produção de seres humanos em série com intenções totalmente negativas.

Porém, a maior polêmica surge ao redor do uso de células embrionárias, que têm um potencial de gerar um ser humano, podendo ser considerado seu uso como um homicídio. Isto é, gerado na dúvida de quando se dá o início da vida de um ser humano.

A visão da Torá
Conforme a visão judaica, não existe nenhuma proibição do ser humano interferir na obra Divina da natureza, usando da tecnologia para curar o ser humano, ou para garantir a ele uma vida mais digna e longeva. Muito pelo contrário. Baseado no versículo (Shemot 21, 19): “...e deverá curá-lo”, nossos sábios ensinaram no Talmud que D’us deu ao médico a licença, e consequentemente o poder, de curar o paciente. Desta forma, a medicina deve usar todo seu poder de pesquisa tecnológica para chegar a soluções para as várias enfermidades e fraquezas do ser humano. Caso isto não for feito, transgride-se a proibição de “...não fique inerte ao ver o sangue de seu amigo...” (Vaicrá 19,16), explicado por nossos sábios no Talmud (San’hedrin 73a): ‘Não fique parado vendo o próximo morrer, sabendo que você pode salvá-lo’.

Além do mais, quando se trata de um caso de perigo de vida, a Torá abre mão do cumprimento de quase todas as mitsvot para salvaguardar uma vida judaica, com exeção de três: a idolatria, o homicídio e relações incestuosas.

Conforme a visão de nossos sábios, o avanço das pesquisas tecnológicas no campo da procriação e engenharia genética por exemplo, não implica em nenhuma contradição com a fé da Criação Divina, ou com qualquer fundamento do judaísmo. Todas estas técnicas produzem algo de alguma matéria prima existente. Isto é denominado pelos sábios ‘yesh miyesh’ (algo de algo). Diferente porém da Obra Divina (sem querer comparar), que foi feita ‘yesh meayn’ (algo do nada absoluto). Como também, nenhuma destas técnicas científicas interpreta o início da vida e o objetivo da mesma. São apenas ferramentas para usar as forças da natureza ativadas pelo Criador.

Células-tronco adultas

Baseado no ensaio acima, conforme a lei judaica, a princípio não existe nenhuma proibição no uso de Células-tronco adultas, tanto para uso medicinal, bem como para pesquisas, sendo estas retiradas do cordão umbilical, da medula óssea ou de qualquer outro tecido.

No caso de clonagem terapeuta, não existe nenhuma proibição clara da Torá, já que a retirada de um óvulo feminino, diferente do esperma, não transgride nenhuma lei da Torá. Como também, atualmente não temos o direito de decretar qualquer proibição com receio de problemas futuros, salvo às proibições que constam claramente na Torá, e que foram decretadas pelos sábios na época dos San’hedrin, ou ainda àquelas que tem o consenso geral dos sábios. Logicamente, não se deve fazer qualquer tentativa de inserir uma célula clonada no útero de uma mulher para procriar, pois isto envolve várias proibições conforme a Halachá (Lei Judaica).

 

Células-tronco embrionárias

Basicamente, há dois tipos de células-tronco: as extraídas de tecidos maduros de adultos e crianças ou as de embriões.
No caso das extraídas de tecidos maduros como, por exemplo, o cordão umbilical ou a medula óssea, as células-tronco são mais especializadas e dão origem a apenas alguns tecidos do corpo.
Já as células-tronco embrionárias cada vez se mostram mais eficazes para formar qualquer tecido do corpo. Esta é a razão pela qual os cientistas desejam tanto pesquisar estas células para possíveis tratamentos. O problema é que, para extrair a célula-tronco, o embrião é destruído.
Segundo os cientistas, seriam usados apenas embriões descartados pelas clínicas de fertilização e que, mesmo se implantados no útero de uma mulher, dificilmente resultariam em uma gravidez. Ou seja, embriões que provavelmente nunca se desenvolverão.
Porém, essa idéia esbarra na oposição de setores religiosos e grupos anti-aborto que consideram que a vida começa no momento da concepção.
Para tornar a questão ética ainda mais complexa, o implante de células-tronco seria mais eficaz se extraído de um embrião clonado do próprio paciente, pois evitaria o risco de rejeição. Esse procedimento só não serviria para pessoas que apresentam doenças genéticas.